Luísa Costa Dias foi a “alma”, a principal impulsionadora de tudo o que se realizou no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa. Comissariou dezenas de exposições e esteve na origem das bienais Lisboa Photo (2003, 2005). Morreu ontem no Hospital Pulido Valente. Tinha 55 anos e sofria de cancro no pulmão.
Os que a conheciam e que com ela trabalharam apontam-lhe uma “personalidade discreta”, alguém que “preferia trabalhar nos bastidores”, mas reconhecem-lhe “um papel fundamental” tanto na organização de exposições e edição de livros de fotografia como na angariação de novos espólios fotográficos que, desde 1994, não pararam de entrar no Arquivo. “Aquilo que o Arquivo foi, a dinâmica que conseguiu, deve-se ao trabalho e dedicação da Luísa. Foi, sem dúvida, a alma desta casa”, disse ao PÚBLICO Luís Pavão, fotógrafo e conservador da colecção do Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.
O comissário Sérgio Mah (que foi o nome escolhido por Luísa Costa Dias para dirigir as duas edições do Lisboa Photo) também sublinha o trato “discreto e elegante” e lembra a “dedicação e proximidade” com que gostava de trabalhar nos projectos em que se envolvia. “Fazia as coisas acontecerem mesmo quando enfrentava enormes dificuldades”, lembra Mah.
Luísa Costa Dias comissariou muitas das exposições que passaram pelo Arquivo, das quais se destacam, nos últimos anos, Lisboa à Beira Tejo (2010), Alfredo Cunha Fotografias (2010), Da Avenida D. Amélia à Avenida Almirante Reis (2011). Foi ainda uma das principais mentoras da LisboaPhoto, Bienal de Fotografia, com duas edições (2003 e 2005), festivais nos quais comissariou as exposições Colecção Ferreira da Cunha (2003) e Corpo diferenciado (2005), esta última sobre o acervo fotográfico do Instituto de Medicina Legal de Lisboa. Nos últimos tempos, trabalhava na exposição Avenida de Roma Fotografias 1950-2011. Como comissária independente, destaca-se a exposição Oui Non sobre a obra de Gérard Castello-Lopes, no Centro Cultural de Belém, em 2004. Como comissária, Luísa Costa Dias tinha preferência “pela fotografia dita de autor, mais directa e documental”, lembra Pavão.
”Fotografias íntimas e transparentes”
“A Luísa deixou de olhar por si para olhar pelos outros”, diz o fotógrafo José Manuel Rodrigues aludindo ao seu trabalho como fotógrafa que é pouco conhecido. “As fotografias da Luísa são íntimas e transparentes como ela gostava de ser”. Rodrigues destaca a “serenidade, a competência e a honestidade” de Luísa Costa Dias que era das poucas pessoas que visitava o seu atelier com regularidade para saber novidades do seu trabalho. “Chegava e dizia: ‘Mostra lá o que andas a fazer’. Queria ver tudo - provas, negativos, contactos. Encorajava-nos a fazer coisas.” Além disso, “tinha uma grande paciência com os fotógrafos”.
A investigadora Emília Tavares sublinha o mérito de Luísa Costa Dias na recolha e descoberta de novos espólios para a fotografia portuguesa. “Desde sempre, esse grande trabalho deve-se à Luísa. Trabalhava na sombra, mas grande parte do acervo do Arquivo é fruto do seu empenho”, disse ao PÚBLICO. Tavares lembra “um trabalho fundamental para o conhecimento e para a construção de uma memória histórica e crítica da fotografia portuguesa”. Numa nota enviada ao PÚBLICO, a investigadora, amiga de Luísa Costa Dias, recorda a directora do Arquivo como alguém com “uma sensibilidade muito especial para reconhecer a qualidade da obra fotográfica e o talento das pessoas que ao longo dos anos trouxe a colaborar consigo”.
Paula Figueiredo, fotógrafa, investigadora e ex-responsável do serviço educativo do Arquivo, reconhece também que Luísa Costa Dias era “a alma” daquela que foi uma das mais activas instituições ligadas à fotografia em Portugal nos últimos anos. “Era muito exigente em relação a tudo o que fazia.”
O corpo de Luísa Costa Dias estará em câmara ardente esta segunda-feira a partir das 12h00 na igreja de S. Sebastião da Pedreira, em Lisboa. O funeral realiza-se na terça-feira e sai às 10h30 para o cemitério de S. João do Estoril.
In jornal "Público" de 19.06.2011, por Sérgio B. Gomes
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