Genialidades na Fundação Calouste Gulbenkian
INGenuidades Fotografia e Engenharia 1846-2006
- Aos 11 minutos já não deixo entrar ninguém!
Diz o Prof. em jeito de brincadeira, como se estivesse a dar uma aula, mesmo antes de iniciar uma visita guiada à exposição.
- Isto é uma exposição de fotografia. Não faz sentido procurar a razão pela qual não está aqui a Ponte Vasco da Gama ou a construção da barragem de Cahora Bassa, ou esta ou aquela obra!
- É uma exposição universal, com 350 trabalhos de 160 fotógrafos; a fotografia mais antiga data de 1846 e a mais recente é de Novembro de 2006.
- Abarca toda a História da fotografia e engloba quase todas as técnicas e processos a ela associados, dos mais antigos aos mais recentes.
- O facto de notarem uma maior presença dos continentes Americano (América do Norte) e Oceânia (Austrália), deve-se a termos podido acompanhar desde o início as grandes transformações e o desbravar desses territórios.
- “INGenuidades”, é um trocadilho entre Engenharia, a ciência das máquinas, e ardil, aldrabice, maquinação com Ingenuidade, ingénuo aquele que nasce livre.
- A outra grande ideia que encontramos nesta exposição é a de podermos olhar para a engenharia como um corpo orgânico que nasce (vive), morre (pela destruição) e transforma-se. Criação / Destruição / Reciclagem.
Podíamos ter ficado ali o dia todo a ouvir o Professor, ninguém se teria importado. Talvez por essa razão eu tenha voltado numa segunda visita.
O interessante nesta exposição está em podermos começar ou acabar onde bem entendermos, não digo que ela não tenha um princípio e um fim. Ela pode ter vários começos a acabarem assim nos convenha. Tem muitos inícios e outras tantas conclusões. Aparece-nos logo o título sugestivo e brincalhão, INGenuidades de engenho/ingenuidade - e génio do seu organizador; longe da inocência (ingenuidade) está tanto a exposição como o seu comissário.
Efectivamente a exposição começa no Planalto de Nullarbor com a “Grande Curvatura Australiana”, Austrália Ocidental, 1983 de Richard Woldendorp (1927-) e acaba com - Homens e Mulheres do universo uni-vos, “Mudança de turno na Fábrica Kelly & Lewis Engineering”, Spring Valei Melbourne, 1949. Cortesia: National Gallery of Austrália. Fotografia de Wolfgang Sievers (1913-), “o homem com sorte”, como nos contou um dia o Prof. Jorge Calado: “Era eu o homem com sorte. Caramba, convivera com Wolfgang Sievers e éramos amigos.” Escreveu o Prof. na biografia de Sievers (“o homem com sorte”, entre outras coisas por ter escapado milagrosamente aos nazis), um dos textos do livro-catálogo Linha de Vida - A Fotografia de Wolfgang Sievers editado com a retrospectiva no Arquivo Fotográfico da CML em 2004.
Mas, também se pode começar no “Domínio do Caçador”, 2001 (Da série “O Dodó e a Ilha Maurícia”) do jovem filandês Harri Kallio (1970-) e finalizar na Missão STS 41-C da NASA, Cortesia Robert Mann Gallery, New York. Pode mesmo, passar-se um dia inteiro a apreciar apenas um dos grupos dos quatro elementos ou das sete secções em que se divide a exposição e voltar outro dia, e outro e outro...Valendo sempre a pena.
No mesmo dia, talvez pela mesma hora, Al Gore o autor do livro e do filme «Uma Verdade Inconveniente», militante de causas ambientais, na sua cruzada quixotesca, estava presente em Lisboa numa conferência sobre os perigos das alterações climáticas. A conferência era apenas para convidados, efectuou-se à porta fechada, e não foi permitida a presença de jornalistas nem a captação de imagens. Vá lá saber-se porquê? No mesmo dia, dizia, inaugurava na Fundação Calouste Gulbenkian INGenuidades Fotografia e Engenharia 1846-2006, um hino às preocupações ecológicas com o planeta, um apelo às tréguas desta guerra desenfreada da sociedade de consumo, numa aliança entre o homem, a engenharia, a ciência e as forças da natureza contra a destruição do planeta. Esta menção à conferência de Al Gore no mesmo dia da inauguração de “INGenuidades”, também não é inocente! Senti esta exposição! E senti-a ainda mais profundamente, quando o Prof. Jorge Calado nos recebe com um Pôr-do-Sol no Oceano Pacífico de ca. 1853 de Ansel Adams (1902-1984) e mesmo antes de nos irmos embora, nos lembra Gandhi (1869-1948) com a frase “Nós somos a mudança que queremos ver no mundo”, daquele que foi a par de Nelson Mandela (1918-), a maior referência e exemplo da perseverança e da inteligência (bondade), do homem do séc. XX.
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“A natureza e as suas leis estavam escondidas nas trevas e Deus disse, “Haja Newton!” e fez-se luz.”
.Alexander Pope (1688-1744)
E o homem aplicou a ciência e modificou o universo em seu benefício (às vezes egoísta). E daqui resultaram, por vezes, grandes danos. Mas as forças da Natureza continuam avassaladoras. A solução passa por melhor engenharia.” Figuras geométricas de poliedros regulares acompanham a exposição em conformidade com os elementos que a mesma vai referindo. Para suavizar a visita à mega exposição uma paleta de cores varia segundo os elementos e os temas de cada secção. É a partir dos quatro elementos que se narra o ciclo vital: criação/destruição/reciclagem. "Todas as engenharias - a civil, a química, a eléctrica, a hidráulica ou a aeronáutica - estão ancoradas nestes elementos, aparecem em defesa das pessoas contra essas forças", explica o Prof. Jorge Calado, "INGenuidades" tenta "espevitar a imaginação das pessoas". Sem ordem cronológica e pontuada por imagens de grande impacto, as provas mais antigas e mais sensíveis são exibidas em nichos com iluminação mais apropriada, algumas surpresas. Muitas surpresas. Esta é também uma exposição que nos maravilha a cada momento que vamos entrando por ela adentro. A variação das dimensões ajudam o diálogo entre as obras. As sensações são uma constante. O sopro tranquilo do vento, quente e poeirento, "Hot and Dusty, Santa Ana Winds 1996" quando apreciamos a obra do americano (índio), Victor Masayesva (1951-).
Juan Fontanive, "Paper Films" 2005
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Ouve-se o assobiar das locomotivas. O ranger das rodas nos carris. Travagens bruscas para apreciarmos o panorama da "Linha de Caminhos-de-Ferro do Douro, Vale do Douro e Viaducto do Laranjal", entre 1900 e 1910, engenharia ferróviaria minociosamente documentada nos trabalhos de Emílio Biel (1838-1915), Colecção do Centro Portugês de Fotografia.
As famosas panorâmicas de Melvin Vanimane (1866-1912), "Caminho-de-Ferro , Lithgow. 1903/1904" enquanto viajamos no Zigue-Zague que atravessa as montanhas azuis que separam a cidade de Sydney do vale fértil de Lithgow.
O silvar dos berbequins nas oficinas, o estrondar untuoso das máquinas hidráulicas e pneumáticas, o zunir, em cadências de silêncios, dos equipamentos robóticos, prenunciam o domínio das máquinas.
Alguns anos antes do dominio das máquinas, um latoeiro, a mulher e a filha percorreram a imensidão australiana na sua oficina sobre rodas. Primeiro puxada por um animal, mais tarde uma carrinha, que é hoje grande atracção do Museu Nacional, em Camberra. Consertava tudo, arranjava cortadores de relva, máquinas agrícolas, remendava tachos e sapatos. Jeff Carter (1928-) fotografou-o nos anos 5o.
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Momento mágico é o de podermos apreciar o trabalho de Hiroshi Sugimoto (1948-), – qual máquina, qual homem. Uma peça sublime do BES art Colecção Banco Espirito Santo.
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Paulo Nozolino (Parte central do tríptico que nos recorda os horrores do holocausto. A primeira fotografia do tríptico Malditos / Bucarest 2003, tem uma estrela de David desenhada numa parede; na terceira fotografia, Assassinados / Auschwitz 1994, podemos ver uma secretária e uma cadeira no silêncio envergonhado de Auschwitz. Entre as duas, Espoliados / Madrid 2003, imagem que sem nada dizer nos diz tudo.)
A Terra: California "vista de águia" das ruínas de São Francisco após o terramoto de 1906, tirada de um engenhoso papagaio com câmara comandada por sinal de telefone por R. Lawrence Company. E o parlamento mais velho do mundo na separação das placas tectónicas eurasiática e americana, na Islândia, que Carlos Miguel Fernandes (1973-) fotografou em Setembro de 2006.
A Água: “Em 26 de Dezembro de 2004 um sismo no Índico, com epicentro a oeste da ilha de Sumatra, atingiu o grau 9 na escala de Richter, provocou uma sequência de tsunamis com 30 metros de altura, com terríveis consequências para todo o sudoeste asiático”. Cadáveres e detritos entopem um dos muitos canais que atravessam a capital de Banda Aceh, depois do maremoto, Dean Sewell (1971) na Indonesia (Da série "Banda Aceh"), 2005.
O Ar: "E tudo o vento levou", Marilyn Bridges (1948). Moinhos de vento nas cumeeiras, Tehechapi, California, 1986. Cortesia: Throckmorton Fine Art New York. NASA, Órbita Lunar, 25 Agosto 1966, (2ª fotografia - de duas - da Terra e da Lua ; a porção mostrada da Lua inclui parte da face oculta). Cortesia: Gary Edwards Gallery, Washington, DC.
As Grandes Maravilhas: Da pirâmide de Kufu, Gizé, Egipto, 2500 bc. 1983 Richard Pare, a última das sete maravilhas do mundo até à Ópera de Sydney, vista como corpo em construção; "Recobrimento dà Ópera de Sydney", 1972 fotografia Ventage gelatina de prata de Max Dupain (1911-1992), e pelo «olho de peixe» de John Gollings (1944) - a homenagem ao arquitecto dinamarquês Jorn Utzon (1918-), inclui um desenho, uma maqueta, e o documentário "O Limiar do Possivel" (1918), a história de Jorn Utzon e o design e construcção da Ópera de Sydney Co-esscrito e Realizado por Daryl Dellone e Produzido por Sue Maslin.
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"Integrada nas comemorações dos 50 anos da fundação, esta é, como o título indica, uma exposição que celebra a ingenuidade e o engenho, nos múltiplos sentidos que tais palavras foram tendo. Ciência e estética fundem-se, aqui, na obra de grandes nomes da arte fotográfica, como Alfred Stieglitz, Eugene Atget, Edward Weston, Albert Renger - Patzsch, Ansel Adams, Dorothea Lange, Margaret Bourke-White, Bill Brandt, Inge Morath, Bernd e Hilla Becher, Robert Frank ou os portugueses José M. Rodrigues (um inédito cromeleque dos Almendres, visto do alto de uma escada magirus), Luís Pavão (Auto-Europa, 1998), António Júlio Duarte (investigação e trabalho fabril), José Manuel Rodrigues (num salto para as nuvens "Amesterdão", 1984), Paulo Nozolino, (um tríptico que nos recorda os horrores do holocausto), Edgar Martins (incêndios na Beira, Portugal), Carlos Miguel Fernandes (Althing o mais antigo parlamento do mundo), Luísa Ferreira (laboratórios científicos, de um projecto à espera de ser mostrado), um campo de futebol em Alhandra, de Paulo Catrica. E os antigos Paulo Guedes, para mostrar o aqueduto de Lisboa ao lado da muralha da China, e ainda Emílio Biel e os Caminho-de-Ferro do Douro.".
Patente em Lisboa até 29 de Abril, a exposição será depois apresentada, em Outubro, no Palácio de Belas-Artes de Bruxelas por ocasião da presidência portuguesa da União Europeia.
Carlos Miguel Fernandes, Thingvellir, Islândia, 2006
Em 1963 a Islândia ganhou uma nova ilha, a partir de uma erupção submarina, a Surtsey. "Bem cedo, na manhã de 14 de Novembro de 1963, a tripulação do navio pesqueiro Isleifur II notou um cheiro estranho de enxofre no ar, mas não lhe deu importância. A perturbação continuou o dia todo, com pedras, relâmpagos e uma coluna de vapor, cinza e fumaça subindo a 3 km no ar. Em cinco dias, onde antes havia apenas o oceano aberto, tinha-se formado uma ilha de 600 metros de comprimento. A ilha, mais tarde chamada Surtsey por causa do gigante mitológico Surtur, finalmente atingiu um diâmetro de quase dois quilômetros.", Ariel A. Roth.
A ilha de Surtsey, com 2,5 km2, situa-se a cerca de 30 quilômetros ao sul da Islândia, e surgiu devido a erupções vulcânicas ocorridas no leito oceânico, elevando-se a uma altura de mais de 170 m sobre o nível do mar, durante o intervalo de tempo decorrido entre 1963 e 1967. No clímax das erupções, chegou a ser expelida uma coluna de vapor d'água e cinzas a uma altura de 6 km, provocando precipitações de detritos ao longo de uma extensa área. Após o seu resfriamento, Surtsey tornou-se um grande laboratório de pesquisas biológicas, pois em muito pouco tempo foi ela extensamente povoada por abundante flora e fauna... Imediatamente após o resfriamento, a partir de 1967, começaram a surgir musgos, liquens, e organismos menores abrigados entre eles, e logo depois, dentro de um período de dez anos, "chuvas" de esporos, sementes, e outras partes de cerca de 40 espécies de plantas vasculares, 158 espécies de insetos, e outros organismos "viáveis", pelo ar e pela superfície do mar.", (Science, 28/11/75, referida na Folha Criacionista nº 11).Em 1971 Ernst Haas publicou “The Creation”, um trabalho baseado no livro do Géneses, que se revelaria pioneiro na aceitação da fotografia a cores.
George Barker. "Niagara in Summer, from Below", ca. 1888
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LYNN DAVIS (1944-)
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Lynn Davis, "Iceberg IV, baía Disko". Gronelândia, 2004
(cortesia Edwynn Houk Gallery, Nova Iorque)
Neste trabalho, que tanto pode ser lido da direita para a esquerda, - como é o caso em culturas como a japonesa ou a árabe, o bloco vai derretendo lentamente sem sair do papel fotográfico que o condiciona. Se ler-mos a fotografia da esquerda para a direita somos surpreendidos pela acutilância de uma enorme faca gelada que, indiferente, nos esventra em público.
Lynn Davis fotografa a beleza destes gigantes flotuantes da Gronelândia na baía de Disko. Paisagens onde os icebergues ocupam a imensidão do imaginário, sendo que grande parte desse imaginário também se encontra submerso no subconsciente dos homens. Davis caracteriza um estilo onde combina o mínimo e o monumental, ele mostra-nos num amontuado de branco as formas rebuscadas e de complexas arquitecturas ou as linhas espantosamente geométricas que nos oferece a natureza.
Jeff Carter, «Latoeiro, Narrandera», New South Wales, 1955
Harold Wright, o latoeiro fotografado por Jeff Carter perto de Narrandera, New South Walles em 1957, emigrou de Inglaterra para o continente australiano nos finais dos anos 20. Percorreu a imensidão deste continente amolando facas e tesouras, aplicando novos fundos aos tachos velhos, reparando toda a espécie de maquinaria doméstica e até consertando sapatos. Numa carreta puxada por um animal (mais tarde substituído por um velho tractor agrícola), que lhe servia de oficina. Com o tempo o veículo foi evoluindo, cada vez mais mecanizado, acabando numa engenhosa carrinha a que chamou Road Urchin (Ouriço da Estrada). A carrinha está em exposição no Museu Nacional de Camberra, Austrália. Para o prof. Jorge Calado a história de Harold Wright, o latoeiro que com a mulher e a filha percorreu as lonjuras da Austrália desde 1932 e durante décadas, "É tão admirável como a construção da barragem das Três Gargantas, na China".
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O grupo de fotografias que mais me impressionou, pela sua raridade mas também pela oportunidade em poder apreciá-lo em conjunto, foi o das albuminas de Robert Howlett (1831-1858), numa delas podemos ver numa pequena carte-de-visite, Isambard Kingdom Brunel o construtor do navio a vapor Great Eastern. - Aliás a única carte-de-visite da exposição. O fotógrafo podia ter feito o retrato do construtor do navio tendo como fundo o próprio navio, exaltando assim a dimensão da obra a par da pequenez do seu criador. Não o fez, foi ainda mais ardiloso, fotografou-o tendo como fundo um pormenor de correntes enormes que levariam a imaginação do observador a supor que estas serviriam a puxar ou deslocar ou prender algo com dimensões ainda mais gigantescas. A desproporção entre a figura humana e os anéis das correntes em fundo é de tal ordem que poderíamos supor tratar-se de uma montagem fotográfica, mas não é o caso. Podemos apreciar nesta imagem um momento único da relação entre o homem e o objecto. Eventualmente, não é de todo ingénua a opção do Prof. Jorge Calado por uma carte-de-visite para nos contar esta história.
Robert Howlett morreu novo, com apenas 27 anos, a causa da morte foi atribuída à exposição aos produtos químicos perigosos necessários para os trabalhos fotográficos. O lançamento do maior navio construído no século XIX, o “Great Eastern”, acabaria por matar um trabalhador e ferir quatro outros quando o engenho para fazer mover o navio se descontrolou. Este seria lançado à água apenas dois meses depois de Robert Howlett ter fotografado, para a revista "Times", o seu construtor Isambard Kingdom Brunel.
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Robert Howlett o "Great Eastern", 1857
Joel Meyerowitz World Trade Center, torres depois do ataque.
O crime hediondo tocou-nos a todos mas, mais horrivelmente a tragédia abateu-se sobre os nova-iorquinos. Arrancar das entranhas da vítima o horror da própria tragédia. Procurar ver algum sentido dos actos da demência dos homens entre os “restos” dessa cegueira. A tarefa coube ao fotógrafo nova-iorquino Joel Meyerowitz que nasceu em Big Apple em 1938 e ainda hoje aí vive. Foi o único fotógrafo autorizado a registar “A Cidade Proibida” o recinto sagrado o “Ground Zero”. Nove meses de trabalho, milhares de fotografias doadas ao Museum of the City of New York que o apoiava. Um portfolio no “New Yorker” e um monumental livro “Aftermath” edição Phaidon, dedicado “aos que lá estavam, para todos os que lá não estiveram”.
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Joel Meyerowitz, "Aftermath" edição Phaidon, 2005
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EDWARD BURTYNSKY (1955-)
Desmanteladores de navios no Bangladesh
Edward Burtynsky. "Shipbreaking" Chittagong, Bangladesh, 2000
A terra tremeu ao amanhecer do dia 26 de Agosto de 1906. Este tipo de abalos não era desconhecido para os californianos de São Francisco e logo que pararam a população foi tomar o seu banho, tratar da sua higiene pessoal, preparar os pequenos-almoços. Foi então que o pior aconteceu, as condutas de gaz estavam destruídas com roturas e fugas por todo o lado. Deram-se as primeiras explosões, deflagraram incêndios por toda a cidade com uma rapidez imprevisível. Foi terrível, mais de 80% da cidade destruída e mais de metade da população sem casa. As autoridades decidiram dinamitar quarteirões inteiros para travar o avanço dos incêndios. As decisões foram tomadas na hora, todas as pessoas tinham de abandonar as suas casas e deixar os seus haveres, tudo era deixado para trás. O fotógrafo Arnold Genthe tinha saído para fotografar a cidade, quando regressou já não tinha casa, tinha sido dinamitada, perdeu-a com tudo o que nela se encontrava. O cenário era apocalíptico como podemos ver nas fotografia de Genthe, de W.J. Street e nas panorâmicas aéreas de George R. Lawrence.
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Primeira capa da "Life" 23 de Novembro de 1936
Margaret Bourke-White fotografou em 1936 a barragem em estilo Déco de Fort Peck, Montana. Essa imagem foi escolhida para a primeira capa da "Life". Para a fotojornalista americana foi o início de uma colaboração que durou até à sua morte em 1971. A fotógrafa está presente nesta exposição "INGenuidades", com este e outros trabalhos.
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Margaret Bourke-White e a barragem déco de Fort-Peck Montana, 1936
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Primeira fotografia obtida por Raios-X
“Fotografia e Engenharia Nuclear” estão muito bem representadas em “INGenuidades”. Todo um historial que obriga a termos que passar pela Fundação Calouste Gulbenkian. Aí poderemos ver a primeira fotografia (Nuclear), uma imagem obtida por Raios X à mão da mulher do cientista (Prémio Nobel da Física em 1901) Wilhelm Conrad Rontgen (1845-1923), em 8 de novembro de 1895 , É interessante pensarmos que até aqui a fotografia era aquilo que víamos. Quanto muito, era também aquilo que poderíamos ver através da ajuda de uma construção óptica: o telescópio ou o microscópio. Mas o Raio X veio trazer-nos algo de completamente novo. A fotografia arrogava-se agora à presunção de ir ainda mais longe. Ela passou a mostrar-nos algo que para o ser humano seria impossível de ser visto a olho nu. Esta fotografia, da mão enluvada da mulher de Wilhelm Rontgen poderia muito bem ter sido incluída no “Corpo Prolongado”.
Não quero calar uma última história das centenas que ficaram por contar. Numa das vezes que estive na exposição “INGenuidades” apercebi-me da presença de um “colega de trabalho”. Aproximei-me sem que este desse pela minha presença e escutei-lhe um comentário.
- Olá Paulo, aponta-me então aquilo que não te agrada. O Paulo não se ficou.
– Olha isto aqui ao lado... "Não me diz nada".
Apontando-me uma albumina de Philip Hanry Delamotte. Fiquei surpreso! Logo esta...Uma albumina do Crystal Palace - Exposição Mundial de Londres em 1851.
O Paulo, porventura, não conhecia a história, não estava ao corrente destes pormenores sem importância. Pensei falar-lhe sobre isto, falar-lhe sobre fotografia...Mas contive-me...Também eu, tenho colegas de trabalho de que gosto muito e outros “que não me dizem nada”.
INGenuidades, Fotografia e Engenharia - 1846-2006
Galeria de Exposições Temporárias Fundação Calouste Gulbenkian
Das 10h00 às 18h00; até 29 de Abril
Av. de Berna, 45 A Lisboa
Tel: 217823000
3 comentários:
Meu Caro António,
Quero felicitá-lo do coração pelo seu longo artigo sobre a exposição das Ingenuidades! Por várias razões.
Primeira: porque é um excelente cicerone, informado e delicado.
Segunda: porque, mesmo depois de lá ter ido já duas vezes, trouxe-me coisas novas. A ponto de lá voltar, agora com as suas observações na mão. E na memória.
Terceira: porque é um exemplo fantástico do que pode ser a colaboração neste blogue da nossa Associação.
Quarta: porque é um exemplo daquilo para que pode servir este blogue.
Quinta: porque o artigo é inteligente, bem humorado e sensível.
Um abraço
ANtónio Barreto
Meu Caro António,
Quero felicitá-lo do coração pelo seu longo artigo sobre a exposição das Ingenuidades! Por várias razões.
Primeira: porque é um excelente cicerone, informado e delicado.
Segunda: porque, mesmo depois de lá ter ido já duas vezes, trouxe-me coisas novas. A ponto de lá voltar, agora com as suas observações na mão. E na memória.
Terceira: porque é um exemplo fantástico do que pode ser a colaboração neste blogue da nossa Associação.
Quarta: porque é um exemplo daquilo para que pode servir este blogue.
Quinta: porque o artigo é inteligente, bem humorado e sensível.
Um abraço
ANtónio Barreto
1 de Abril de 2007 22:05:00 GMT
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