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O invento (e a sua designação) ficarão para sempre associados ao nome de Louis-Jacques Mandé Daguerre (1787-1851), mas a injustiça é evidente se nos lembrarmos que foi Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) quem desenvolveu as bases teóricas, técnicas e científicas do processo.


C. Laguiche. Joseph Nicéphore Niépce. ca 1795. Aguarela. 18.5 cm de diametro. Daguerreótipo de Daguerre.
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Enquanto a Fotografia que nos habituámos a conhecer até à chegada da era digital se baseava no princípio do negativo-positivo e nas inúmeras reproduções que podiam ser feitas a partir de uma imagem, o daguerreótipo resultava num exemplar único em positivo com uma óptima definição de pormenores. E se este apuro lhe garantiu uma popularidade inabalável durante os anos quarenta do século XIX, relegando o negativo-positivo para uma evolução paralela com poucos adeptos entre os profissionais, o carácter único das provas acabou por ser umas das causas do seu declínio quando o processo concorrente se aperfeiçoou até chegar a um nível que satisfez os fotógrafos. Estes, maioritariamente envolvidos no negócio do retrato e bem servidos pelo daguerreótipo, não estavam interessados nas imperfeições e nos longos tempos de exposição inerentes aos primeiros passos do processo alternativo e exigiam mais.

William Talbot fotografado por
O pioneiro do método fotográfico baseado no princípio negativo-positivo foi o inglês William Henry Fox Talbot (1800-1877). A técnica que Talbot desenvolveu envolvia imagens em negativo e reproduções em positivo, ambas sobre papel, mas a fraca definição das provas finais e a impossibilidade de utilização livre do método (Talbot patenteara a sua invenção e exigia o pagamento de direitos de autor a quem utilizasse comercialmente o seu método fotográfico) mantiveram a calotipia, também conhecida por talbotipia, e outras técnicas herdeiras do processo longe da preferência dos fotógrafos profissionais durante mais de uma década. No entanto, o seu paradigma acabaria por vingar, dominando grande parte da História da Fotografia; a daguerreotipia como método preferido pelos fotógrafos profissionais acabaria por ser substituída durante os anos cinquenta do século XIX pelos negativos de colódio húmido em vidro e provas de albumina.

Frederick Scott Archer 1813-1857.
Inventor do Processo em Colódio Húmido.
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Foi Frederich Scott Archer (1813-1857) quem deu o derradeiro impulso na queda da daguerreotipia, ao usar colódio húmido em vez da habitual albumina na ligação dos sais de prata ao vidro, aumentado a qualidade das reproduções e diminuindo as dificuldades técnicas. No entanto, a albumina continuou a ser usada no papel para as provas em positivo durante mais algumas décadas, até ser substituída pelo papel de fabrico industrial nos anos oitenta do século XIX.
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"O Colódio Húmido foi um processo fotográfico negativo em vidro, introduzido por Frederic Scott Archer em 1851. Foi o processo mais utilizado até 1875. A chapa era coberta com uma solução de colódio e iodeto de cádmio e enquanto húmida era imersa numa solução de nitrato de prata. Após um ou dois minutos a chapa era colocada no chassis e exposta numa máquina fotográfica durante alguns segundos ou minutos. Imediatamente após a exposição a chapa era revelada em àcido piroglico ou em sulfato ferroso, lavada, fixada em hiposulfito de sódio, lavada de novo e posta a secar. Todo o processo tinha que decorrer enquanto o colódio estava húmido, porque quando seco o colódio não é permeável ao revelador, nem ao fixador. Os fotógrafos eram obrigados a transportar consigo uma câmara escura para onde quer que fossem, e executavam todas as operações no local. As câmaras escuras portáteis tornaram-se características deste processo. As chapas de colódio apresentam uma cor esbranquiçada e uma distribuição de colódio irregular, especialmente nos bordos.", in http://www.lupa.com.pt/gloA.htm
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Hippolyte Bayard, Autoportrait en noyé, 1840
Um resumo dos primórdios da História da Fotografia não pode estar completo sem o nome de Hippolyte Bayard (1801-1887). Bayard, o mais ignorado dos quatro inventores da Fotografia, foi também esquecido pela Academia das Ciências francesa que, em 1839, e protegendo Daguerre, só lhe atribuiu uma bolsa de 600 francos pelas suas descobertas (Daguerre e Isidore Niépce, filho de Joseph Niépce, conseguiram rendas vitalícias de 6000 e 4000, respectivamente). Ficou para História da Fotografia o auto-retrato apócrifo de Bayard, onde este escreveu: Le gouvernement qui avait beaucoup trop donné à M. Daguerre a dit ne rien pouvoir faire pour M. Bayard et le malheureux s'est noyé. (O governo, que deu demasiado ao senhor Daguerre, disse nada poder fazer em favor do senhor Bayard e o infeliz afogou-se.)
Carlos Miguel Fernandes
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