sábado, dezembro 29, 2007

Os “Olhares fotográficos” dos estrangeiros
II - Wolfgang Sievers, Henri Cartier-Bresson e Georges Dussaud

III - Sebastião Salgado e os “Mensageiros da Liberdade”
IV - Os olhares de Cândida Hoffer, Bert Teunissen e Marta Sicurella

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Quando escrevi o primeiro texto "Os 'Olhares Fotográficos' dos estrangeiros" sobre Portugal e os portugueses comecei-o com Daguerre. Daguerre nunca esteve em Portugal, a intenção era situar os leitores e familiarizá-los com os primeiros processos fotográficos. Os primeiros fotógrafos estrangeiros que nos roubaram a alma, que nos observaram, eram quase todos profissionais, em contraponto com a terminologia à época, existiam poucos amadores. George Eastman (12/07/1854 - 14/03/1932), viria a alterar tudo isto. O jovem bancário difundiu o slogan “ You press the button, we do the rest”. Nós apertávamos o botão e Eastman fazia o resto. O americano nascido em Waterville, New York, não estava a brincar “A Kodak nº1 vendeu 30 000 unidades no primeiro ano de comercialização, e a sua sucessora, a Kodak nº2, já tinha sido comprada, a meio da década de 1890, por mais de 100 000 amadores. A partir dessa altura, a fotografia deixou de ser privilégio de profissionais e aristocratas ociosos, e espalhou-se por uma população ávida de novas imagens.”, in Nafarricos.Inventor do “filme em rolo” patenteado em 1884 e da câmara fotográfica kodak em 1888. Fundou a Eastman Dry Plate and Film Company (1884), em Rochester, New York, localidade onde viveria até sua morte, a primeira empresa a produzir equipamentos fotográficos padrões em série e também filmes transparentes flexíveis, o primeiro filme em rolo, que deu grande impulso à indústria cinematográfica. Fundou a poderosa indústria Eastman-Kodak Company (1892), que se transformou numa das maiores empresas mundiais de equipamentos e materiais fotográficos. Implantou-se em todo o mundo, a Portugal chega apenas em 1919, de facto em 1919, foi criada a Kodak Portuguesa, Limited.


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George Eastman fotografado por Nadar em Paris 1890

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A 1.º Câmara Kodak e o rolo transparente patenteado por George Eastman


A Kodak número 1, tipo caixote, era portátil, fácil de manejar e custava 25 dólares (quando custava 62 dólares para ser fabricada). Usava um filme de papel sensível com 608 X 7 cms, suficiente para tirar 100 negativos circulares de 3,8 cms. de diâmetro.




Fotos circulares. As primeiras câmaras Kodak caracterizavam-se pelo formato de janela redondo
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Após fazer as cem fotografias, quantidade que o filme permitia, o consumidor remetia a máquina para Rochester, onde o filme era retirado, revelado e reposto, num serviço que custava 10 dólares. Tudo por reembolso postal. O lançamento dessa máquina exigia uma divulgação em larga escala e, numa das primeiras campanhas publicitárias da história, foi criado o slogan: "Você aperta o botão e nós fazemos o resto"A partir do momento em que a Kodak chega a Portugal, ou até devido ao facto de ter finalmente aqui chegado, os concursos de fotografia patrocinados por inúmeras colectividades, as exposições de maior ou menor relevo e os salões de maior e menor importância vão marcar as próximas décadas.

Fotografia de Christopher Williams, "Kiev 88"

Terá dito Fernando Pessoa que depois da Kodak a fotografia (acabou), já não serve para nada. Não foi assim, de facto, a Hasselblad que começou com uma parceria com Eastman acabaria por se tornar um aparelho de referência assim como a sua imitação pobre, a Kiev 88. A Rolleiflex haveria de fazer-lhe frente por volta de 1932, como escreve Emília Tavares “O sucesso da Rolleiflex no meio amador foi proporcionado pela simplificação das operações de focagem e captação, aliadas à utilização do primeiro filme em rolo para câmaras reflex no formato 6x6cm.




O sucesso da máquina foi tal, que a Kodak introduziu em 1932 o filme 620, especialmente destinado a ser utilizado em Rolleiflex. Entre 1929 e 1932 foram vendidas 28 000 máquinas, a um preço que tornava a fotografia num hobbie ainda proibitivo para alguns, mas em Outubro de 1941 publicidade de marca anunciava já a venda de 400 000 aparelhos a nível internacional.” .

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A LEICA e as suas lendas, os mitos e as suas histórias.


A Leica também conquistaria outros fotógrafos. Chegariam outras câmaras fotográficas cada vez mais sofisticadas e cada vez mais ao alcance de todos. Hoje com o digital a fotografia continua. Estaria Pessoa enganado!



Estes textos, como já devem ter percebido, não pretendem situar os estrangeiros que nos olharam, numa cronologia onde as datas são uma sucessão no tempo, elas são apenas uma referência ao tempo em que estes fotografaram Portugal. O primeiro período estaria entre o advento da fotografia em 1839 e o pós guerra (II grande Guerra Mundial). E, apesar de falar num segundo ciclo, que começaria depois da Segunda Grande Guerra Mundial e que iria até ao fotojornalismo que se seguiu à revolução de Abril de 1974, decidi que o fotografo Cecil Beaton ficaria melhor na transição destes dois períodos.


Margaret Monck, Man, Quayside with Bird Cages (Portugal) 1930’s.

Também preferi que Margaret Monck (Margaret St. Clair Sidney, 1911- 1994), aparecesse só no segundo período apesar de ter fotografado Portugal nos anos 30. Inexplicavelmente pouco sabemos da sua passagem por Portugal. Aqui deixamos algumas pistas para investigadores interessados. Margaret St. Clair Sidney era filha de um Vicerei da Índia, Frederick John Napier Thesiger 1.º Visconde de Chelmsford e de Frances Charlotte Guest. Margaret casou em 1934 com John Monck (o conhecido editor John Goldman), filho do Major Charles Sydney Goldman. A sua ascendência e descendência que aqui podem constatar facilitam seguramente esse empreendimento.O mesmo entendi com Wolfgang Sievers, que abre este segundo período embora tivesse fotografado Portugal pela primeira vez em 1934. Quanto a Georges Dussaud que só começa a fotografar em Portugal a partir de 1975, e ainda hoje fotografa, foi aqui incluído por entender que não se identificaria com os períodos que se seguem: “III - Sebastião Salgado e os Mensageiros da Liberdade” e “IV - Os olhares de Cândida Hoffer, Bert Teunissen e Marta Sicurella”, penso que concordam comigo, ou pelo menos entendem as minhas opções.
Posto este interlúdio... O segundo “olhar fotográfico” dos estrangeiros sobre Portugal só nos chegaria ao aproximarmo-nos dos anos 50 com o final da II Grande Guerra Mundial e com aquilo a que o nosso posicionamento no conflito nos tinha condicionado. Ao depararmo-nos com o olhar dos estrangeiros no Portugal do pós guerra e nos anos 50 e 60, que nos mostram tantas vezes o Portugal profundo, aquele que não queremos ver, ou que vemos de outra forma. Aquilo que para um estrangeiro é tipico ou exótico, quantas vezes não é sinónimo de pobreza e até confirmação da miséria daqueles que aí vivem. Apesar da estratégia portuguesa na II Grande Guerra ter alinhado pela neutralidade, esta balançou para onde sopraram os ventos como acontece frequentemente com as posições menos claras. Dessa neutralidade resultou que o país depois da guerra manteve muitas das características que já se vinham arrastando desde o séc. XIX, no que diz respeito ao seu atraso, na sua agricultura tradicional - magnificamente documentada por Michel Giacometti no documentário “Povo que Canta” realizado por Alfredo Tropa para a Rádio Televisão Portuguesa nos anos 60. Na sua industria, cuja revolução até nós chegará – como quase tudo -, atrasada em relação aos nossos vizinhos europeus. O progresso entrava-nos pela casa a conta gotas, medido pacientemente pelos zelosos da ditadura. Mais confrangedor, era o atraso nos costumes e a mentalidade – quando os judeus em fuga da Alemanha nazi por aqui passaram, as suas roupas, as suas atitudes, os seus comportamentos mais insignificantes, como as mulheres que fumavam olhando o mar na Ericeira, despertaram a curiosidade dos pacóvios. Pena foi, que a maioria aqui só tivesse ficado de passagem e daqui nada quisesse levar, nem trazer. Poucos aqui se fixaram. Compreende-se! O regime, apesar de neutral, tinha algumas semelhanças com aquele de que fugiam.

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Wolfgang Sievers fotografado por: Angela Wylie.


Um destes judeus, em fuga de uma Europa que seria mais tarde praticamente ocupada pelos esbirros de Adolf Hitler, foi Wolfgang Georg Sievers (1913-2007). Esteve em Portugal em 1934/35, percorreu-o de norte a sul e foi a venda dessas fotografias portuguesas através de agências internacionais que financiaram, em parte, a sua viagem definitiva para a Austrália em 1937 (“Um longo adeus. Wolfgang Sievers, decano dos fotógrafos australianos, morre em Melbourne aos 93 anos”. Jorge Calado, Actual / Expresso 18 de Agosto de 2007). Para trás ficava uma Europa cega, surda e muda às atrocidades que se haveriam de tornar consciência do pior que os homens podem ser. O CPF – Centro Português de Fotografia – muito graças à amizade que aproximava o fotógrafo e o Prof. Jorge Calado, adquiriu o seu espólio de fotografia sobre Portugal. Wolfgang foi o único estrangeiro que participou na Exposição de Arte Moderna (1934) na Sociedade Nacional de Belas Artes (onde foi o único fotógrafo presente) diz-nos o Prof. Jorge Calado que termina a sua mais recente exposição “Ingenuidades” na FKG, com um trabalho do fotógrafo australiano, Homens e Mulheres do universo uni-vos, “Mudança de turno na Fábrica Kelly & Lewis Engineering”, Spring Valei Melbourne, 1949. Cortesia: National Gallery of Austrália. Fotografia de Wolfgang Sievers, “o homem com sorte”, como nos contou um dia o Prof. Jorge Calado: “Era eu o homem com sorte. Caramba, convivera com Wolfgang Sievers e éramos amigos.” Escreveu o Prof. na biografia de Sievers (“o homem com sorte”, entre outras coisas por ter escapado milagrosamente aos nazis), um dos textos do livro - catálogo Linha de Vida - A Fotografia de Wolfgang Sievers editado com a retrospectiva no Arquivo Fotográfico da CML em 2000. Jorge Calado, o amigo, despediu-se a 7 de Agosto de 2007, quando Wolfgang mais uma vez resolveu partir. Sabemos lá para onde! Desta vez para sempre. “Um longo adeus”, na revista Actual do Expresso de 18 de Agosto de 2007.

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WOLFGANG SIEVERS



Capa do catálogo da exposição "Linha de Vida" com fotografias de Wolfgang Sievers e algumas fotografias que Wolfgang fez em Portugal quando aqui esteve nos anos de 1934/35. Évora, Alcobaça, Lisboa, Algarve, Nazaré...O atraso nos costumes e nas mentalidades em Portugal foi, também, registada por outros que nos visitaram. Emília Tavares, conservadora para a área da fotografia e vídeo no Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea em Lisboa, escreve no seu trabalho “A fotografia ideológica de João Martins (1898-1972)”, Mimesis 2002: “O fenómeno dos salões de fotografia está intimamente associado ao advento do amadorismo fotográfico, à banalização da fotografia, à sua acessibilidade e mediatização como objecto de culto social e familiar. A um inicial associativismo de elite, sucedeu no século XX outra concepção deste tipo de agrupamento, então designados de foto-clubes, numa esfera de agremiação por identidade com determinado processo ou técnica fotográfica, ou ainda através de espaços lúdicos de cariz pós-laboral, como os grupos desportivos e culturais de grupos profissionais determinados.” Apesar disso, os salões de fotografia que então se multiplicaram trouxeram outros olhares, neles participavam grande número de estrangeiros, alguns (não muitos), deslocavam-se propositadamente a esses eventos traziam o seu próprio olhar e levavam-no no regresso, na bagagem, para terras distantes. Na verdade esse olhar não era muito diferente do nosso, também ele se limitava ao litoral, às ilhas, ao característico nos pescadores e nas gentes do campo, aos saloios, às planícies alentejanas, ao atraso, à pobreza, às crianças descalças, às feiras, romarias e procissões..
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Um desses salonistas estrangeiros foi Jean Dieuzaide (1921-2003), assinava Yan quando concorria aos Salões da Companhia Nacional de Navegação e aos Salões de Arte Fotográfica do Grupo Desportivo da CUF. Foi colaborador do Secretariado Nacional de Informação. Ruben de Carvalho escreveu: “Em 1953, a editora francesa Arthaud enviava pela primeira vez a Portugal um fotógrafo que, então com 30 anos, conquistara já uma sólida reputação no seu país: Jean Dieuzaide. As visitas repetiram-se nos anos seguintes (1954 e 1956), tendo como objectivo a publicação do livro “Le Portugal”, saído em 1956 com um texto de Yves Bottineau. Entretanto, Dieuzaide conquistara o mais importante prémio de fotografia francês, o Prix Nièpce, em 1955 com as suas imagens feitas em Portugal. O trabalho de Dieuzaide seria ainda parcialmente utilizado em nova publicação, “Voyages en Ibérie”, surgido em 1983 nas edições Contrejour, mas seria necessário aguardar por 1987 para que a cidade de Toulouse (onde Dieuzaide fundou em 1975 a Galeria Municipal do Castelo de Água) organizasse uma exposição integral dos trabalhos, acompanhado da edição do livro Portugal 1950, com um texto de Eduardo Lourenço.


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Homem de esquerda, esteticamente ligado às correntes neo-realistas do cinema e da fotografia, Dieuzaide apaixonou-se literalmente por Portugal e particularmente pelo seu povo. Um povo pescador e rural que a sua objectiva fixou, como bem salienta Eduardo Lourenço, na simultaneidade da dureza da sua vida de trabalho e da dignidade do seu porte, num conjunto de imagens que directamente recordam o desenho e a pintura de Rogério Ribeiro, Dourado, Pomar, Pavia que na mesma época traziam os trabalhadores do Alentejo e do Ribatejo à protagonização das suas obras. Se constituem uma denúncia da pobreza desse povo trabalhador no Portugal sombrio dos anos 50, as fotos de Dieuzaide reflectem contudo a consciência que se postava detrás da máquina sobre o papel do povo, a sua capacidade de resistência e a inevitabilidade da sua acção transformadora. Daí a impressionante modernidade destas imagens, a sensação de confiança e determinação que transmitem.” In “Crónica da Idade Mídia - Há meio Século” Avante n.º 1376 – 13 de Abril 2000.



.JEAN DIEUZAIDE
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A menina do coelho. Nazaré, Portugal, 1954; O domingo do pescador, Camara de Lobos, Madeira, 1956; Repasto no São João, Braga Portugal 1954; são algumas das muitas fotografias que Yan ou Jean Dieuzaide fez no Portugal dos anos 50 do século XX. E nós agradecemos.


Quando esteve em Lisboa Henri Cartier-Bresson (1908-2004), subiu ao Castelo de São Jorge para espreitar a cidade. Não terá visto mais que qualquer um de nós, não terá tido o seu “instante decisivo”, os deuses não estavam com ele nesse momento, ter-se-ão reencontrado no mesmo dia nos Jerónimos durante uma confissão – mas, ficou-nos um sabor a pouco. Inge Morath (1923-2002), foi assistente de Henri Cartier-Bresson nos anos de 1953-54 (eventualmente acompanhou-o na sua vinda a Portugal em 1954). Morath começou a fotografar em 1951, entrou na Magnum em 1953 como membro associado e tornou-se membro de pleno direito em 1955. Esteve em Portugal em 1956, foi quando fotografou alfama e, é dessa data a fotografia de Lisboa do Cais das Colunas escolhida para ilustrar o livro “Magum, Magnum”, comemorativo dos 60 anos da Magnum, editado em 2007. ,
Em 1960 conhece o escritor e dramaturgo Arthur Miller (1915-2005), do qual vem a tornar-se a terceira mulher e de quem terá 2 filhos Rebeca e David. Anos mais tarde Henri Cartier–Bresson regressa a Portugal, questionado por um jornalista sobre as imagens que tinha feito quando aqui esteve nos anos 50, o grande da fotografia europeia não trazia lembranças, não tinha memórias, vá lá saber-se porquê! Definitivamente, o caçador de “instantes”, aqui, não foi feliz.



Cartier-Bresson veio espreitar-nos, não terá visto mais que qualquer um de nós. Castelo de S. Jorge, Lisboa 1954 .

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. "Confissão" Jerónimos, Lisboa 1954 Cartier-Bresson 1954.


O fotógrafo francês Eduard Boubat tinha 33 anos quando visitou Portugal pela primeira vez. Enquanto Sophie, sua mulher, descansava no quarto de um Hotel na Nazaré, Boubat foi passear até à praia. Foi com a sua velha Leica que tirou a sua primeira fotografia no nosso país. Boubat costumava referir-se à “atmosfera” ele dizia que a fotografia não é apenas visual, ela é também narrativa e lírica. - Nem mais... Como ele próprio escreveu “Tinha chegado havia apenas meia hora e aquele homem estava ali, com a sua criança, como se estivesse à minha espera” A imagem iria aparecer na capa do seu primeiro livro, publicado no Japão e intitulado Ode Marítima, numa referência a Fernando Pessoa. In As Imagens e Nós.

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1.ª Fotografia de Edouard Boubat em Portugal, Nazaré 1956.


Édouard Boubat (1923- 1999), esteve em Portugal em 1956 e regressou nos anos de 1957, 1958, 1965, 1973 e 1980. - Deve ter gostado!


Fotografia de Edouard Boubat, Nazaré 1956
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Nos anos 50 também por aqui passou a realizadora e fotógrafa francesa Agnès Varda (1928-), que fotografa a mulher portuguesa e um cheirinho dos sabonetes Lux das vedetas de Hollywood. É dela a mulher que passa apressada roçando a parede com o cartaz da Lux que exibe o sorriso e os olhos rasgados de Sophia Loren. “A cineasta passou pela Póvoa de Varzim nos anos cinquenta e deparou-se com uma festa popular. Pediu à senhora da foto que fosse com ela para uma rua deserta com claridade para aí compor este belo retrato. Cinquenta anos depois escrevi um artigo num jornal com o postal "Sophia Loren em Portugal" e eis que alguém me dá a conhecer a poveira que ilustra tão bela imagem” chama-se Maria do Alívio, senhora que lavava roupa para fora. "Sophia Loren em Portugal”, 1953, comentários no Blog a (In)visibilidade das coisas. Não resisto a mostrar aqui um pequeno excerto de um texto de Agnès Varda, os filmes e as fotografias, “Daguerrencontro, Outubro 1992″, Cinemateca Portuguesa, Junho 1993.“Para voltarmos à fotografia e chegarmos a Portugal, a fotografia “Sofia Loren em Portugal” foi feita na altura de uma reportagem (…) Pensando nessa reportagem a primeira coisa de que me lembro são as escritas nos passeios em frente à loja de chá- chat quer dizer em português chá, não é? Para mim, que gosto muito de gatos, os gatos estavam nos passeios e fartei-me de os fotografar. Fotografei também muitas mulheres que levavam coisas sobre a cabeça, pão ou bebés. Estive numas aldeias muito bonitas, Nazaré, na costa, e na região de Évora. Atravessei planaltos que parecem a lua. Em Estremoz havia um homem que fazia estatuetas e trabalhava nas finanças, ia receber os impostos de bicicleta e voltava para casa para fazer pequenas esculturas com um canivete. Fiz muitas fotografias sobre a arte popular, mas gostei sobretudo do trabalho desse homem… Luciano Martins de Oliveira, chamava-se.”Postado no blog De-ci De-lá em 23 de Agosrto de 2006.



Maria do Alívio fotografada por Agnès Varda, Povoa do Varzim 1953.


Continuando nos anos 50, neste vai e vem impossivel de evitar, tantos são os fotógrafos que nos visitaram, Bert Hardy (1913-1995), o inglês que entre 1941 e 1957 que trabalhou para a revista Picture Post . Esteve em Portugal, mais exactamente nos anos de 1951 e 1955, entre os pescadores da Nazaré e as ceifeiras do Alentejo. George Pickow (?), fotógrafo casado com a lenda da musica popular americana Jean Ritchie, "Sings Blue Diamond Mines ", um pouco de musica nunca fez mal a ninguém... Regressemos à fotografia! George Pickow esteve em Portugal nos anos 50 também ele, fotografou as gentes e os costumes portugueses, pode ver aqui alguns trabalhos que George Pickow fez quando esteve entre nós.
Finalmente, Reg Birkett (?), todos fotografaram costumes portugueses e estiveram também na Nazaré, assim como todos têm trabalhos sobre Portugal no Huston Archiv e podem ser vistados na Viewimages.

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George Pickow, "Beach Nets", 1950, Nazaré. Hulton Archive



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Bert Hardy, "Portuguese Fisherman", 1952, Nazaré. Hulton Archive




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Reg Birkett, "Fishermen Siesta", 1958 -Nazaré Getty/images.


François Le Diascorn (1947-), gosta de fotografar: animais mágicos, monstros marinhos, Budas e Cristos, anjos e demónios, monges e pastores, cidades e países como: Paris, Veneza, Índia, Egipto, Grécia e também Portugal.


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FRANÇOIS LE DIASCORN



Em Portugal esteve em 1978, debaixo de sobreiros e azinheiras alentejanas; em 1980 em procissões e romarias; voltou ao nosso país em 1992. Não sei quantas vezes regressou, quantas imagens levou consigo cada vez que cá esteve. O fotógrafo francês merece ser referenciado até porque, o seu trabalho se identifica com o de outros fotógrafos referidos neste período.





Lamentações das três Marias, Évora, Portugal 1980. Fotografia François Le Diascorn / Phatos.

A suiça Sabine Weiss (1924-), esteve em Portugal nos anos de 1954 e 1956, esteve em Fátima onde provavelmente terá fotografado “Missa”, 1954. Esta fotografia pode também ter sido tirada em qualquer igreja de Portugal. Sabine Weiss nasceu na Suiça em 1924. Quando de uma viagem a Itália conhece Hugh Weiss, um pintor americano, com quem vem a casar em 1950. A fotógrafa escreveu: “Eu gosto muito deste diálogo constante entre mim, o meu aparelho e o meu sujeito, isto é o que me diferencia de alguns fotógrafos que não procuram este dialogo e que preferem distanciar-se do seu sujeito.”.
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Sabine Weiss, Interior de igreja em Portugal, 1954 .

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Quem também esteve em Fátima foi George Krause. De facto o americano nascido em Filadélfia nos EUA em 1937, esteve em Portugal quando tinha 27 anos. Foi quando fez as fotografias de Fátima, tinham passado já 43 anos desde as aparições e o local onde construíram o Santuário tornara-se de culto. Foi nesse ano, a 21 de Novembro que ao encerrar a 3ª sessão do Concilio Ecuménico do Vaticano II, o Papa Paulo VI anuncia diante dos 2.500 padres conciliares, a concessão da Rosa de Ouro ao Santuário de Fátima. George Krause voltaria a Portugal, pelo menos em 1970 data de um outro trabalho do fotógrafo americano. “Rebanho”, 1970.


Fátima Portugal, 1964 Fotografia d George Krause.


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. Rebanho, 197o Portugal. Fotografia de George Krause

Quando da exposição “Dedans Dehors”, inaugurada a 17 de Maio de 2005 em Paris no Centro Cultural Calouste Gulbenkian, comissariada por Jorge Calado, o Prof. escreveu sobre Thurston Hopkins (1913-),o seguinte: “Mas todos compreenderão que eu feche este breve preâmbulo com uma homenagem a Thurston Hopkins, que há mais de 50 anos se apaixonou por Portugal e pela voz de Amália. Foi, para mim, um privilégio retomar o contacto e verificar que o nonagenário Thurston, cineasta, escritor, designer gráfico, pintor, biógrafo, ilustrador, glória do fotojornalismo britânico, continua activo, generoso e optimista. Corre que a fotografia prolonga e melhora a vida, e eu acredito.”. Nem mais...



Os fotógrafos ingleses Grace e Thurston Hopkins


A 6 de Dezembro de 2007 num leilão organizado pela P4 Photography, estiveram à venda duas fotografias de Thurston Hopkins, respectivamente: uma vista de Coimbra em 1950 e uma outra de Amália Rodrigues na Feira Popular, foram adquiridas cada uma por 820€, preço de martelo. Isto mostra o valor dos trabalhos do fotógrafo inglês no mercado português.

Amália, Lisboa, 1950. Thurston Hopkins (col. Culturgest/CGD, Lisboa)


Wolf Suschitzky (1912-?), fotógrafo e cineasta nasceu em Viena e foi para Inglaterra em 1934-35, tendo-se naturalizado inglês em 1947. Fotografava sempre que viajava e construiu um grande arquivo de imagens documentais. Esteve na Madeira em 1950, onde fez algumas fotografias.

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Wolf Suschitzky (1912-)



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Entre 1954 e 1956 Bill Perlmutter (1932-), foi fotógrafo do Signal Corps US Army West Germany e viajou por toda a Europa para fotografar diversos temas militares. Voltou mais tarde ao Continente Europeu e esteve em Portugal, pela primeira vez, no Inverno de 1958, tinha então 26 anos.A maqueta do livro «Retratos dos Portugueses» foi adquirida à alguns anos pelo Centro Português de Fotografia - CPF. Bill Perlmutter cruzar-se-ia novamente com os portugueses em 1970 em (Portrait of the Portuguese, Modernage Gallery New York), e mais tarde em 1998 em “À Prova de Água”, grande exposição organizada pelo Prof. Jorge Calado (Waterproof at Expo '98, Centro Cultural de Belém Lisboa, Portugal). A exposição “Heróis do Mar” onde o fotógrafo norte-americano foi de novo lembrado assim como o seu percurso pelo litoral português, entre Lisboa e a Nazaré em 1958, foi cedida pelo Centro Português de Fotografia para ser vista nas comemorações dos 70 anos do Museu Marítimo de Ílhavo. Passados todos estes anos, as fotografias de Bill Perlmutter (entretanto editadas em livro, em 2002), foram novamente mostradas em ‘Heróis do Mar’, exposição que tem percorrido o país de então para cá.

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Praia da Nazaré, 1958. Bill Perlmutter.


Sobre este trabalho o fotógrafo diz: “As pessoas fascinavam-me; os rostos morenos e marcados pelo tempo pareciam estar em completa sintonia com o mar bravo à sua volta. As roupas pareciam fora do tempo, na moda em qualquer século menos no século XX. Aqui o relógio parou, ou pelo menos passou a andar mais devagar, porque estes pescadores corajosos pareciam mais próximos do seu passado fenício do que do presente. Os rostos enrugados, profundamente sulcados, espelhavam uma vida de luta e determinação contra um mar exigente. As mulheres também reflectiam uma imagem de orgulhoso estoicismo, modelado por uma vida de muito trabalho e sacrifício (...) Também me impressionavam as infindáveis paisagens de céu, mar e areia. Nuvens escuras carregadas de presságios, limitadas pela espuma do mar, criavam perfeitas molduras a esta gente do mar. As elegantes proas pontiagudas dos barcos de pesca e as filas de cestos entrançados a secar ao sol, acrescentavam outros elementos a estes ambientes extraordinários. Fiz milhares de fotografias em várias paragens do mundo desde essa primeira visita a Portugal, mas nunca o resultado me satisfez tanto. Ao olhar para estas imagens, 40 anos mais tarde, consigo recordar com espantosa clareza, as circunstâncias e as emoções ligadas a cada cena. É com enorme satisfação que vejo estas fotografias novamente ressuscitadas em “Heróis do Mar” para poderem ser apreciadas por uma nova geração de observadores.", in "O Ilhavense" e no blog da APPH - Associação Portuguesa de Photographi@..
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Outros norte americanos por aqui passaram. O filho de Edward Weston (1886-1958) referência da straight photography nos Estados Unidos, esteve no nosso país pelo menos em 1960 e 1971 datas a que correspondem duas das fotografias que Brett Weston (1911-1993), fez em Portugal, designadamente: “Convent”, 1960 e “Crakced Paint” em 1971. Brett Weston começou a fotografar com 14 anos. Trabalhou no atelier do pai em Glendale até 1927. São conhecidos os retratos que fez de Einstein em 1930.
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. Fotografia de Brett Weston "Convento", 1960


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Fotografia Brett Weston "Crakced Paint", 1971


Outro americano que nos visitou foi a fotógrafa Esther Bubley (1921-1998). Esteve em Portugal em 1965, gostou dos vendedores de castanhas, das varinas e dos empedrados da calçada portuguesa. A força das suas imagens, desde quando trabalhava para Roy Stryker (Farm Security Administration), como técnica na câmara escura e durante toda a sua vida, nunca deixou de nos surpreender. Contudo, a sensibilidade da fotógrafa americana não encontrou entre nós especial fortuna.

. Varina, Lisboa Portugal 1965. Fotografia de Esther Bubley.

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Empedrado da calçada portuguesa. Lisboa 1965. Foto Esther Bubley.

Alma Lavenson (1897-1989), nasceu em São Francisco, filha de um empresário/comerciante bem sucedido. Após o devastador terramoto, e incêndio que se lhe seguiu, de 1906, a família vai viver para a Baía de Oakland. Em Dezembro de 1927 uma fotografia sua fez a capa da Photo-Era Magazine e em 1941 recebe um prémio pela fotografia “San Ildefonso Indians” que é uma das fotografias mais conhecidas da fotógrafa americana. Em 1962 esteve em Portugal continental e na Madeira. A sua fotografia “Spiral I, Tomar, Portugal” fez parte da exposição Photography in the Fine Arts IV organizada em 1963 no Metropolitan Museum, Nova Iorque, que a adquiriu. Alma Lavenson, formou-se em psicologia em 1919 e durante a sua vida foi muito mais que uma fotógrafa. “Para mim”, disse ela, em 1978, “fotografia era apenas uma pequena parte da minha vida”. Alma Lavenson morreu em 1989. (Patrícia Gleason Fuller, texto de Alma Lavenson (exposição catálogo), Riverside, CA: Museu da Fotografia Califórnia, c. 1979.) e (Biografia de Alma Lavenson “Portugal 1890-1990” Catálogo Europália 1991)..
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Spiral, Tomar, Portugal, 1962 de Alma Lavenson
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Quem também esteve em Portugal, na Nazaré, foi Stanley Kubrick (1928-1999), o americano que adaptou para o cinema “Lolita” (1962), clássico da literatura escrita por Vladimir Nabokov à volta da relação entre um homem de meia-idade e uma adolescente; "2001: Uma Odisséia no Espaço" (1968), - quem da nossa geração terá passado ao lado; " Laranja Mecânica" (1971) de Anthony Burgess, focado na violência humana e, principalmente, na da juventude; "O iluminado" (1980) (The Shining), adaptação da obra de Stephen King. A história de uma família que passa uma temporada num hotel nas montanhas. - Arrepiante....
Alguns anos antes Kubrick, o fotógrafo, tinha estado em Portugal, mais exactamente em Maio de 1948 como podemos comprovar no livro de Rainer Crone: “Stanley Kubrick, Drama and Shadow: Photographs 1945-1950” da Phaidon. E aqui vou ter que recordar o que rescreveu o Prof. Jorge Calado “Que viu ele? Judeu solitário, oriundo de uma família de imigrantes austríacos, Kubrick viu inevitavelmente o Portugal estrangeiro – o das viúvas da Nazaré e da roda viva dos moinhos de vento. (...) as mulheres a olharem o mar sem retorno, mas também soube encará-las de frente para começar a desfiar o seu fado de tragédia grega.”. O Prof. escreve ainda “Alguns, em Portugal, chamam a isto fotografia turística e fogem dela como o diabo da cruz. (...) Nazaré foi a nossa Coney Island, a Trafalgar Square de todas as demonstrações. E que seria da fotografia americana sem a primeira ou da inglesa sem a segunda.”, Expresso, 20 de Janeiro de 2006. Prof. Jorge Calado, “Cinema e fotografia. O fotojornalismo Stanley Kubrick e a sua passagem por Portugal”

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Auto-retrato, "Stan Kubrick"–style, 1950. All photographs by Stanley Kubrick. From the Look Magazine Photograph Collection/The Library of Congress.

Outros americanos fotografaram Portugal Peter Fink (1907-1984), que esteve connosco diversas vezes nos anos 50 e 60, e também fotografou as famílias que no cais esperavam o regresso dos soldados portugueses da guerra colonial em Angola.

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Peter Fink. Portugal ca. 1955 Col. CPF/MC

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Leon Levinstein (1913-1988), filho de emigrantes judeus russos passou por Portugal quando de uma viagem pela Europa nos anos 60.


Leo Levinstein. Mulheres da Nazaré, Portugal 1960 Col. CPF/MC.

Ray K.. Metzker (1931-), este professor de fotografia e fotógrafo viajou pela Europa em 1960-61, fez algumas fotografias de Portugal em 1960.



Ray K..Metzker Portugal 1960 Col. CPF/MC


Louis Stettner (1922-), visitou Portugal em 1958-59. Foi nessa altura que o fotógrafo e escritor esteve, - adivinhem onde? Na Nazaré, pois claro.

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Fotografia Louis Stettner. Nazaré Portugal 1958 Col. CPF/MC.
Nos anos sessenta, mais exactamente em 1963, esteve em Portugal, no âmbito de uma série anual de foto-reportagens para a revista norte-americana “Look”, Irving Penn (1917-), e foi nessa ocasião que fotografou Amália Rodrigues e também fotografou alguns ciganos que acabaram publicados no Século Ilustrado.
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"Young New Yorkers on the Brooklin waterfront on 9/11", Thomas Hoepker

Thomas Hoepker (1936-), no dia 11 de Setembro de 2001 ficou preso no trânsito e só pôde fotografar o horror a partir de Manhattan Bridge. Foi quando fotografou cinco nova iorquinos que conversavam perante a tragédia, “Young New Yorkers on the Brookliyn waterfront on 9/11”. A fotografia, que o autor só permitiu ser publicada 4 anos depois dos acontecimentos daquele dia fatídico, torna-se polémica.Em 1964 Hoepker estava a fotografar em Trás-os-Montes a boda de um casamento; fotografou também um jovem da Mocidade Portuguesa, fazendo a saudação fascista; as mulheres vestidas de negro; o homem que faz pose para o fotógrafo de rua segurando um guarda-chuva e os rapazes (um de bicicleta e outro montado num burro), que debaixo de chuva miudinha, sorriem para o fotógrafo, riem de quê?
-Interpretações...
Não sei se o fotógrafo voltou mais tarde a Portugal, no entanto, a sua passagem por aqui, deixou rasto.

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Thomas Hoepker em Trás-os-Montes

Neal Slavin

- Britons. Channel Swimmers Association. Neal Slavin.


Neal Slavin (1941-) em 1968 recebe uma bolsa de Fullbright que lhe permite viajar para Portugal. Ao mesmo tempo que no âmbito dessa bolsa faz fotografia arqueológica, Slavin fotografa Portugal e os portugueses. Expôs no Museu de Arte Antiga em Lisboa em 1968 e no Museu Machado de Castro em Coimbra no ano de 1970. Os trabalhos de 1968, foram mostrados numa exposição em Nova Iorque, Underground Gallery, e no primeiro livro, "Portugal", editado pela Lustrum Press em NY 1971. Em 1987 expôs em Conimbriga, “Conimbriga, Ruínas de Conimbriga”. Os seus primeiros trabalhos sobre Portugal foram expostos e editados pela Ether no Fotoporto em 1990.


Neal Slavin (1941-)

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Fotografias de Neal Slavin. Portugal, 1968. Lisboa, Fátima, Nazaré, etç. Fotografias reproduzidas no Catálogo "Portugal 1890-1990" da auturia de Jorge Calado e António Sena no âmbito da Europalia 1991 e também do livro "1839-1989 Um Ano Depois/ One Year Later" 1990, cuja selecção de fotografias e Edição de catálogo da colecção da SEC foi da responsabilidade do Professor Jorge Calado.

Portugal foi visitado, pelo menos, por uma centena de fotógrafos estrangeiros, suspeito que terão sido muito mais de uma centena. Podemos constatar isso mesmo se espreitarmos alguns arquivos internacionais de fotografia, alguns bancos de imagem ou arquivos privados de instituições comerciais e industriais que funcionavam em Portugal. Por exemplo os arquivos da companhia de electricidade ou os arquivos das companhias de telecomunicações. Os arquivos das empresas de transportes ferroviários e da construção das linhas de caminhos-de-ferro. Mas também companhias de exploração de minas, frequentemente estas explorações eram entregues a empresas estrangeiras que contratavam fotógrafos estrangeiros para fazerem o levantamento patrimonial das mesmas. Haviam também as agências de imagens, hoje arquivos ou bancos de imagens. Se numa visita a Paris passarem uma tarde nos arquivos Roger-Viollet, ficaram surpreendidos com centenas de imagens de Portugal que se encontram nesses arquivos. A 13 de Outubro de 1889, Henri Roger fotografava a família durante um almoço, fazia a sua primeira fotografia e dava início a uma das mais prestigiadas agências fotográficas do mundo a Roger-Viollet.

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O holandês Christoffel Johannes Scherer, melhor ainda, Kees Scherer (1920-1993), foi um dos fundadores da World Press Photo. Esteve em Portugal em 1967 e fotografou-o de norte a sul. O Vintage Photo Gallery Pim Westerweel possui 54 fotografias que Scherer fez do nosso país.



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KEES SCHERER



Fotografias de Kess Scherer. © Pim Westerweel.

A Lisboa cidade triste e alegre de Sid Kerner (1920-), foi quando o americano decidiu nela passar férias no Verão de 1967. Como com Vítor Palla e Costa Martins dez anos antes em 1958, também foram as pessoas que lhe prenderam o olhar de estrangeiro, “crianças e velhos, vendedores, pedintes, gente da rua.”, mas também os detalhes arquitectónicos, montras e mercados. Algumas das fotografias que fez quando por aqui passou foram expostas na Hudson Park Branch Library em 1971. Em 1995 foi homenageado com uma exposição no Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. Toda a exposição foi oferecida ao Arquivo de Lisboa. Sid Kerner terá, eventualmente, feito mais imagens da cidade que o viu regressar convidado para este evento. Não sabemos! Sid Kerner escreveu, no catálogo da exposição de 1995 “Lisbon Pictures, 1967”, que acreditava que a fotografia deve reflectir os tempos em que vivemos, e documentar não só o que nos perturba, mas também o que nos encoraja na nossa sociedade.

Sid Kerner (1920-)

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Herbert George Ponting (1870-1935), fotógrafo filho mais velho de Francisco Ponting, um banqueiro norte americano. Casou-se com Mary Biddle Elliott em 1895. Dificuldades financeiras obrigaram a família a regressar a Inglaterra em 1898. Depois de um breve período em Londres, voltaram para a Califórnia. Ponting abriu um estúdio de fotografia em 1900. No mesmo ano ganhou um concurso organizado pela Bausch e Lomb. Creio tratar-se Bausch & Lomb, a primeira empresa óptica norte americana, fundada em 1850 por dois amigos, J.J. Bausch e H. Lomb. Em 1853, quando John Jacob Bausch, um imigrante alemão, abriu uma pequena óptica em Rochester, Nova York, necessitou de mais dinheiro para manter o crescimento do negócio e pediu emprestados 60 dólares ao seu amigo Henry Lomb, a quem prometeu tornar sócio se o negócio desse certo, e como deu. Em 1920, a Força Aérea dos Estados Unidos fez uma encomenda: - Produzir uma protecção ocular para os seus pilotos de caça, que enfrentavam sérios problemas de visibilidade. Depois de dez anos de pesquisa, apresentaram óculos com lentes verdes, que reflectiam os raios solares. Somente em 1936 a novidade foi baptizada de Ray-Ban e começou a ser vendida ao grande público. Não resisti a contar a história. Ponting também fez fotografia de vistas estereoscópicas para diversas empresas. Entre 1900 e 1910 viajou pelo mundo, Japão, Coreia, Manchúria, China, Índia, Suíça, França, Espanha, Rússia, França, Birmânia e Portugal. Durante estes anos, ele se tornou amigo de um outro fotógrafo, E. O. Hoppé.
Emil Otto Hoppé (1878-1972), também esteve em Portugal, assim como anos mais tarde e também na Madeira o fotógrafo Coburn.



O fotógrafo Alvin Langdon Coburn, nasceu nos EUA, em 1882. Com oito anos recebe dos seus tios a primeira câmara fotográfica e é o fotógrafo F. Holland Day que o convence a dedicar-se à fotografia. Acaba por abrir um estúdio em Nova Iorque. Em 1904, Coburn realiza um conjunto de retratos dos principais artistas e autores literários britânicos para o Metropolitan Magazine projecto que vai consagrá-lo como um dos grandes retratistas da época. Anos mais tarde, em 1917, realiza uma sucessão de imagens fotográficas com um espelho com efeitos caleidoscópicos à frente das lentes, repartindo assim o objecto fotografado num conjunto de planos não representacionais. Nasciam assim as primeiras fotografias puramente abstractas - "vortografias" -, como o próprio Coburn lhes chamaria. Por volta de 1930 oferece grande parte da sua colecção de fotografias ao Royal Photographic Society e destruiu 15.000 negativos em vidro. Em 1950 volta a fotografar, faz 300 fotografias numa visita à lha da Madeira, em Portugal.Morreu aos 84 anos no País de Gales em 1966 e deixou tudo à George Eastman House, em Rochester. Alvin Langdon Coburn, in Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2007. [Consult. 2007-11-23].

Continuando ao largo de Portugal agora em pleno Oceano Atlântico, no arquipélago dos Açores que foi visitado por Hans Hass (1919), "A Vida Nasceu no Mar" muito interessante, pois relata mergulhos em partes díspares do globo como nas Capelas - S.Miguel Açores, nos anos 50 e 60, onde mergulha junto a um cachalote moribundo (diga-se arpoado). Cientista do mar, pioneiro da caça submarina e do mergulho com escafandro, o alemão Hans Hass e a sua mulher Lotte Hass foram, junto com Jacques Cousteau, os percursores das imagens submarinas e dos relatos voltados para o grande público.
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O Dr. Hass, como era mais conhecido, conta em seus livros as aventuras de mergulhar entre corais, tubarões e belos organismos marinhos, nos mais diversos mares do mundo. A série de livros que escreveu mostrando como era a vida submarina, ilustrada com várias fotos a preto e branco, fizeram grande sucesso na mesma época que Cousteau também explorava o assunto, assim, os relatos de Hans Hass são pródigos na descrição, uma vez que ele não possuía a estrutura que Cousteau tinha a seu dispor, nem as imagens em movimento que fizeram o sucesso de Cousteau.O livro "O Demonio do Mar Vermelho" é muito interessante para os mergulhadores de naufrágio, por causa do relato sobre os naufrágios ocorridos na Segunda Guerra e que apresentavam então pouca vida marinha em relação a naufrágios mais antigos.
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Bernard Wolf é um fotógrafo freelancer. Em 1970 fotografou a caça à baleia e ao cachalote no atlântico ao largo do Arquipélago dos Açores. Deste trabalho editou um livro em 1972 “Daniel and the Whale Hunters; the Adventures of a Portuguese Boy in a Whaling Town in the Azores”. New York: Random House. Seria mais tarde reeditado em português Bernard Wolf [2002] , Daniel e os “caçadores” de baleias , Lajes do Pico , Câmara Municipal das Lajes do Pico.Fotografou as festas do Espírito Santo, na Ribeira de Maio. Trabalhou a cores e fotografou o Algarve, Lisboa e os Açores para a Secretaria Nacional do Turismo e para empresas como a TAP, transportadora aérea portuguesa. Nos anos oitenta voltou a fotografar Portugal.
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Fotografias de Bernard Wolf



Fotografias de Bernard Wolf . Festas do Espírito Santo na Ribeira Brava, Açores 1970.
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Fotografias de Bernard Wolf



Fotografias de Bernard Wolf Lisboa, Algarve e Açores.
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Como já foi dito, nos anos 40/50 estiveram em Portugal: os franceses, Henri Cartier-Bresson, Inge Morath, Édouard Boubat, Agnès Varda, Jean Dieuzaide e a suiça Sabine Weiss; de Inglaterra, Thurston Hopkins, Wolf Suschitzky e Bert Hardy; da Holanda, Kees Scherer; da América, Stanley Kubrick, Leon Levinstein e Louis Stettner. Nos anos 60 visitam-nos outros americanos Ray K.. Metzker, Irving Penn, Brett Weston, Esther Bubley, Alma Lavenson, George Krause, Bill Perlmutter, Neal Slavin, etc. Bernard Wolf nos anos setenta fotografou as Festas do Espirito Santo na Ribeira Brava nos Açores. Quem também nos fotografou - a trabalhar, foi Alan Villiers, um notável marinheiro e fotógrafo, com enorme entusiasmo pela vida no mar. Os seus trabalhos evocam a história marítima do início do século XX. Villiers nasceu em Melbourne, na Austrália, em 1903. Filho do poeta e dirigente sindical Leon Joseph Villiers.
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Em 1952 publicou o livro "The Quest of the Schooner Argus", sobre a pesca da frota portuguesa do bacalhau nos Bancos da Terra Nova, especialmente a bordo do lugre Argus. Este livro foi inicialmente publicado em português pela Livraria Clássica Editora com o título "A Campanha do Argus: Uma viagem aos Bancos da Terra Nova e à Groenlândia". Em 2005 a Editora Cavalo de Pau e o Museu Marítimo de Ílhavo reeditaram o livro com o título "A Campanha do Argus - Uma Viagem na Pesca do Bacalhau" [Veja a capa]. Sobre o mesmo tema Villiers escreveu para a revista National Geograhic Magazine, em Maio de 1952, o artigo "I Sailed With The Portuguese Brave Captains" e realizou o filme "The Bankers - The Voyage of the Schooner Argus", a partir das filmagens realizadas em 1950.
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Estiveram entre nós fotógrafos que regressariam mais tarde e outros que nunca mais cá voltariam. Fotógrafos famosos ou que famosos se tornariam. E, passaram por cá muitos que eram pouco conhecidos. Também... Toni Schneiders (1920-), fotógrafo alemão que esteve em Sesimbra. Leo Jahn Deitrichstein, fotógrafo e editor que esteve no nosso país nos anos 50. Eliot Elisofon (1911-1973), nasceu em Nova Iorque, fotojornalista freelance, fotógrafo da "Life", esteve em Sesimbra, Aveiro, Lisboa; W. Robert Moore (1927-1984) e tantos outros. Koudelka que regressaria nos anos da revolução de Abril, com os "mensageiros da liberdade". Era um nunca mais acabar...
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Foram muitos os estrangeiros que nos elegeram. Georges Dussaud só cá esteve a partir de 1975 mas voltaria nos anos 80, 90 e 2000 entrando pelo século adentro numa impressionante aventura de poesia e paixão. Conheço poucos olhares, tão profundos, tão completos, das nossas raízes das nossas entranhas, como este de Georges Dussaud. Conheço muito bem os lugares e as gentes do nordeste transmontano que o fotógrafo elegeu para imortalizar, até por isso, sou observadora privilegiada desta parte do seu trabalho. Nunca nos cruzámos naquelas terras, embora também eu por lá andasse nos mesmos anos com ainda mais assiduidade. Embora aí não tenha família, sempre que posso é para onde vou repousar. Quando os meus filhos começaram a crescer gostava de lhes mostrar os corsos e os javalis. Sentíamo-los de noite, quando invadiam as hortas dando cabo de tudo. Ouviamos os lobos, os mesmos que nos diziam terem sido extintos, gostavamos de imaginá-los a uivar à lua. Ouviamos o nadar deslizante das lontras, nos rios que descem as serras e atravessam as aldeias em silêncio. De madrugada acordamos com o som dos guizos dos rebanhos e os badalos das vacas, levadas para os montes pelos pastores. A matança do porco, ou das ovelhas, das galinhas e outras aves de capoeira, de coelhos. Seja lá do que for, ainda ali se faz à antiga. Depois lavam-se as tripas no rio, para os enchidos. A Europa dos políticos ainda está longe – nem tanto quanto gostariamos, e assim vai continuar até que do esquecimento e da morte se faça lei. Não existe outra forma. Sempre foi assim. Isolados, muito isolados, apesar das estradas terem nos últimos anos encurtado as distâncias. Basta lá irem de Inverno para saberem do que estou a falar. Os animais, cada vez menos, vivem na parte debaixo das casas “lojas”, para que em cima, onde os donos dormem, o frio não seja tanto. Há alturas em que o "briol" é tanto que nem se sai de casa. Melhor, comem-se castanhas assadas na fogueira ou no fogão da lareira onde se fumam os enchidos. Fiasse alguma lã, cardasse cada vez menos o linho, – as poucas raparigas por casar, já não querem os enxovais. Contam-se anedotas, fala-se na vida dos outros, que são como o linho cada vez menos, até que a violência do tempo afrouxe e permita levar os animais ao campo porque a ração é cara. Dussaud fotografa-nos como os estrangeiros que nos olharam nos anos 50 e 60 do século passado. Em pleno século XXI Dussaud diz que cada um tem o seu ritmo, manifestamente diferente de pessoa para pessoa, de comunidade para comunidade, de fotógrafo para fotógrafo. Eu sempre olhei o nordeste transmontano como o olhar de Dussaud, como o dizer de Torga que o fotógrafo apanhou de fugida como um “bicho”, num retrato único, protegendo-se da chuva da serra, talvez por isso os entenda tão bem.

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Georges Dussaud
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A partir da observação das fotografias de Dussaud dir-se-ia que o fotógrafo não era estrangeiro, eu pelo menos não conheço nenhum português que se tenha, da mesma forma, assim saído tão bem. E basta ver aqui que Geoges Dussaud não se ficou por Trás-os-Montes. Ele foi a Lisboa, Douro e Alentejo. Ele não esqueceu os pescadores e o mar português. Voltaremos a falar de Georges Dussaud quando do capítulo IV - Os olhares de Cândida Hoffer, Bert Teunissen e Marta Sicurella, em Os "olhares fotográficos" dos estrangeiros de Ângela Camila Castelo-Branco
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Agrelos, Serra do Barroso 1981
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- "Esta fotografia é de uma reportagem sobre as debulhadas. Era Verão fazia muito calor. Uma mulher que estava à janela convidou-nos a beber um copo de vinho. Disse-lhes que as ia fotografar e elas puseram-se nesta posição. São mãe e filha, e esta pôs o cão sobre os joelhos. Vi nele o filho que ela não teria. Foi algo perturbador: há uma evidência de pobreza, mas ao mesmo tempo uma dignidade impressionante." (Georges Dussaud). In "Ministério da Soltura".
Uma amiga alemã costumava dizer – quando queria irritar-me, que os portugueses tinham duas particularidades, a primeira, era que, em geral lhes faltavam os molares sendo que por esse facto quando estavam de perfil conseguia ver-se o outro lado da rua sem qualquer dificuldade; a segunda, dizia ela, coleccionávamos tudo: latas de refrigerantes e cervejas, canetas e isqueiros, porta-chaves, chávenas, selos, caricas e rolhas, pacotes de açúcar e até havia, num filme do realizador César Monteiro, um personagem (que era interpretada pelo próprio César Monteiro), que coleccionava pêlos púbicos. Dizia ela, que isso só era possível porque não tínhamos sofrido as contingências de uma guerra onde várias cidades foram completamente destruídas, não ficando pedra sobre pedra, pelos alemães e pelos aliados ao defenderem-nos do tirano, durante a II Grande Guerra Mundial. Se no que se refere à nossa saúde dentária ela queria destacar o nosso atraso na higiene da boca em relação ao resto da Europa, não me foi difícil concordar com ela. Naquilo que se refere ao coleccionismo - pelos púbicos à parte -, ela queria apenas dizer que éramos mais materialistas, mais agarrados aos objectos e às suas histórias, diz ela, porque nunca tínhamos perdido nada, - eles sim teriam passado pelas agruras da guerra. Neste ponto a minha amiga estava enganada, a revolução dos “cravos”, a mesma que nos deu a liberdade, tinha despojado de tudo, até mesmo da sua própria terra e dos familiares que lá ficaram sepultados, centenas de milhares de portugueses das colónias que foram despejados na metrópole sem, literalmente, nada. Imaginem que a partir de amanhã teriam de abandonar as vossas casas, a vossa terra (Coimbra, Torres Novas, Alenquer, Monfortinho, Vidigueira, seja qual for o seu nome, seja lá onde isso fica) e nunca mais teriam oportunidade para aí regressarem. Imaginem a gravidade daquilo que não se fez, do que não fomos capazes de perceber nos corações daqueles que nos chegavam nas pontes aéreas, velhos que transportavam nos olhos cascatas de desespero, crianças que conviviam alegres com a mentira dos pais que lhes prometiam um regresso que nunca aconteceria – onde estavam os “olhares fotográficos”? - Um assunto que está por escrever de uma maneira séria, de uma maneira justa, devemos-lhes isso. - Talvez ainda seja demasiado cedo.Contudo, penso que a minha amiga estava enganada quanto a sermos um povo que nunca perdeu nada.
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Vem esta conversa a propósito da 3 vaga dos "olhares fotográficos" dos estrangeiros sobre Portugal e os portugueses: Sebastião Salgado e os “Mensageiros da Liberdade”.
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Como escreveu Vítor Pomar: “Além de se alargar o que podemos saber de Portugal e de como somos vistos, somando o sentido alargado do documentário ao de escolha de obras de grandes fotógrafos, também assim se proporciona o confronto com os nossos olhares interiores, que foram por muito tempo poucos e pouco livres.”.
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Anrtónio Faria e Ângela Camila Castelo-Branco
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Os “Olhares fotográficos” dos estrangeiros:
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....I - De Charles Legrand e William Barklay a Man Ray
...II - Wolfgang Sievers, Henri Cartier-Bresson e Georges Dussaud
...III - Sebastião Salgado e os “Mensageiros da Liberdade”
...IV - Os olhares de Cândida Hoffer, Bert Teunissen e Marta Sicurella

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2 comentários:

Marcelo Maceo disse...

Olá, sou brasileiro e vi no texto que vcs conheceram W. Robert Moore. É o mesmo que trabalhou na National Geographic? Se for, a razão é que sou um grande fã deste fotógrafo em especial e gostaria muito de saber sobre mais detalhes de sua vida, ou quem sabe, se vcs não teriam um foto dele. Obrigado pelo retorno!

Anónimo disse...

Eu tenho um amigo fotografo que uma vez publicou na revista da National Geographic e adorei o seu trabalho!
O podem reconhecer porque leva uns lentes bausch e lomb de cor vermelho.