domingo, março 18, 2007

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A fotografia na China actual
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A escolha do tríptico de Zhang Huan, para anunciar o programa da PhotoEspaña de 2007 (PHE07) é mais um eco de que a fotografia contemporânea chinesa está na moda. Mas não é só ao nível da arte que a China está na moda. O acelerado crescimento económico deste país tem atraído nos últimos anos a atenção mundial.


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Dependente do petróleo para manter a sua crescente indústria a funcionar, a China afecta hoje o preço do crude nos mercados internacionais. Portugal, dependente da importação deste bem, sabe bem as consequências. A China deixou de ser um país fechado e hoje a globalização é real. Os riquexós e as nuvens de dióxido de enxofre provenientes da queima de carvão que enfestavam o ar das cidades chinesas descritas em A Condição Humana de André Malraux estão hoje distantes.
Deng Xiaoping, sucessor de Mao Tsé-Tung, quando assume o poder em 1978 inicia as grandes reformas económicas desmantelando a economia de planificação centralizada de Mao. Exceptuando o carvão, a China tem poucos recursos naturais - petróleo, matérias primas e água - para suportar os 1300 milhões de habitantes. Perante esta escassez, os políticos de Beijing abriram a China ao exterior, política que se consolidou com a entrada da China no WTO (World Trade Organization). As substanciais transformações do CCP (Chinese Comunist Party), hoje ironizado por muitos como Chinese Capitalist Party, são evidentes. A China é hoje governada por uma geração que se formou nas melhores universidades dos Estados Unidos. A diferença é abissal em relação aos anos de Mao, não só em termos económicos como artísticos. Com o triunfo do comunismo em 1949, a República Popular liderada por Mao, isolou os artistas chineses de tudo o que se passava ao nível das artes. Na “China Pictural”, a revista oficial do partido, editada a partir de 1950 e baseada no modelo da “URSS em construção”, a fotografia era utilizada unicamente para fins de propaganda. Com Xiaoping, a China recupera do atraso a que tinha sido condenada.




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De forma rápida absorve do ocidente não só as tecnologias necessárias para o seu desenvolvimento económico como de uma assentada absorve todos os movimentos artísticos que tinham entretanto ocorrido. É o primeiro contacto duma geração com a arte global. Ao nível da fotografia, surgem livros e revistas que divulgam a sua história desde Alfred Stieglitz a Cindy Sherman. O estilo de vida dos chineses muda. Mais de 100 milhões de chineses acedem hoje à Internet, nos leilões de arte, o record sucessivo que as peças atingem são frequentemente justificadas pela presença de uma nova geração de coleccionadores chineses e a casa e o hall de entrada nestes anúncios publicitários podem se passar em qualquer parte do mundo.



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A China afasta-se dos costumes e comportamentos passados, e os artistas contemporâneos reflectem isso nas suas obras, o passado parece estar mais vivo que o presente. Hong Lei em Autumn in the Forbidden City, revisita a emblemática Cidade Proibida. Hong Lei fotografa um passáro mutilado, no palácio imperial.



Hong Lei, Autumn in the Forbidden City, East Veranda, 1997

Hong Lei, Autumn in the Forbidden City, West Veranda, 1997


“These are the first artworks in which I used photography. The bird is empty inside. I wanted to make a work about five thousand years of Chinese history and its unchanging political system. China has been dominated by tyranny for thousands of year and is still a one-party system. You cannot stamp out tyranny. It still exists and the palace symbolizes its persistence. The jeweled bird represents the emperor’s concubines. The concubine has been left to die, which symbolizes the suffocation of artistic expression by tyranny. Over time I have come to see the dead bird as the embodiment of my own self…During the time this photograph was made…the entire world around me in China kept changing. Many beautiful traditions such as the ancient gardens were being demolished to make way for new cities. I was really concerned about history being totally destroyed. I needed an outlet to express what I was feeling about this new reality”.


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Mas, este crescimento galopante rumo a uma sociedade de consumo ao estilo ocidental tem outras consequências drásticas. Se o mercado aberto trouxe dinheiro e conforto, a poluição é hoje um dos maiores perigos que a China enfrenta, é o preço a pagar pela riqueza. A poluição e outros flagelos presentes em trabalhos de Lu Guang o "Fotografo do povo".



Lu Guang, Pollution, 2005



Para se ter uma ideia da gravidade, se a China se aproximasse dos níveis dos EUA no que respeita ao número de automóveis por família, cerca de 600 milhões de carros circulariam nas estradas chinesas, o que corresponde a mais do que o total de veículos hoje existentes no planeta. Os artistas chineses pressentem este perigo e através da fotografia e vídeo, os meios privilegiados da arte actual chinesa, alertam para os riscos desta sociedade de consumo que só reconhece a satisfação individual. Zhang Huan, o artista que a PhotoEspaña utiliza no seu cartaz, usa o seu próprio corpo nas performances que realiza. Para ele “The body is the only direct way through which I come to Know society and society comes to Know me. The body is the proof of identity. The body is language”.






Zhang Huan. Skin, 1997 e 1/2 (meat+text), 1998.



Zhang Huan" My America" 1999 C Print 18" x 24"


Zhang Huan, Family Tree, 2001. Zhang Huan, Foam, 1998


Realiza Family Tree, uma sequência de nove fotografias, em que de forma gradual a sua cara desaparece sob a acumulação de uma caligrafia que revela graus de parentesco, títulos de histórias chinesas e de elementos primordiais como a terra, o fogo e a água.




A rápida metamorfose que se opera na China conduz o indivíduo para a morte.
Em cada ano, cerca de 10 milhões de trabalhadores rurais, procuram as cidades, aspirando a uma vida melhor. Este crescimento acelerado das cidades marca uma profunda mudança de uma cultura agrícola para uma sociedade industrial. Os artistas não ficam imunes à amplitude e rapidez desta transformação. Como nos trabalhos de Sze Tsung Leong.





Sze Tsung Leong, Distrito de Chaoyang , Pequim, 2002


Sze Tsung Leong, cidade de Chongqing, 2003




Sze Tsung Leong. Causeway Bay I, Hong Kong, 2004.


O ciclo desenfreado de destruição e construção é o tema do trabalho de Zhang Dali. Regressado de Itália, onde viveu durante seis anos e onde viu os primeiros graffiti, chega a Beijing (Pequim) em 1995 e depara-se com a demolição acelerada do centro da cidade. Começa então a desenhar o seu perfil nas paredes das casas demolidas, sugerindo testemunhar o que se passa.


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Zhang Dali, Demolição: World Financial Center, 1998. Pequim


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Zhang Dali, Dialogo: Praça Full Link e Demolição: Cidade Proibida, Pequim, 1998




De 1995 a 1998 desenha mais de duzentos perfis e transforma essas ruínas em locais de arte, embora efémeros. Utiliza a fotografia para documentar a sua intervenção, e nos seus enquadramentos visualizamos através das ruínas as novas torres que caracterizam agora Beijing (Pequim). Para Zhang Dali, a monotonia deste estilo internacional irá afectar a forma de vida de cada um. Nas novas cidades, iguais a tantas outras no mundo, as relações humanas estão condenadas à degradação.A calamidade que ocorre nas cidades chinesas é tema recorrente.

Luo Yongjin de uma forma mais analítica condensa em várias fotografias diferentes momentos da construção, como se se tratasse de um diagrama. A montagem final dá origem a uma imagem monumental. Luo Yongjin, capta o drama do que está a acontecer em todas as cidades chinesas.



Luo Yongjin, Lotus Block, 1998/2002


Mas todos estes trabalhos, assentes na visão pessoal de uma geração, só fazem sentido na conjuntura actual chinesa. É na dualidade, da explosiva expansão económica simultânea com a perca das tradições, que a maior parte da nova geração se exprime. A arte não sofreu a mesma globalização que a economia. Qual o resultado destas mudanças aceleradas? Nem mesmo os artistas conseguem avaliar.


Madalena Lello, Março de 2007 (Postado em Sais de Prata e Pixels)


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