segunda-feira, março 05, 2007

Susan Opton “Soldier Photographs”



Soldado Claxton.Copyright ©2007, Suzanne Opton.

Claxton, 120 Days in Afghanistan
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A ideia de que a fotografia revela “a verdade” nunca foi consensual. Com o aparecimento das modernas tecnologias, que vieram facilitar a manipulação através de programas como o Photoshop a desconfiança desta realidade acentuou-se ainda mais. No que diz respeito à fotografia de retrato, o que até à segunda metade do século XX, era considerado como “um retrato da alma” desapareceu definitivamente. Deixaram de haver expectativas de que um rosto fotografado possa revelar algo de autêntico, de verdadeiro sobre o seu sujeito mas, por outro lado, não deixou de ser terreno onde continuamos a procurar projectar as nossas sensibilidades.
Na exposição de Susan Opton, “Soldier Photographs” na Galeria Peter Hay Halpert, a fotógrafa segue a tradição de artistas como Thomas Ruff quando evita propositadamente fotografar expressões. E como o tema é de tal maneira forte esta abordagem funciona na perfeição. Os soldados retratados e (identificados), por Susan Opton embora anónimos para a maioria daqueles que os observam, fazem parte de uma realidade que espelha o dia a dia da sociedade global em que nos encontramos. Eles estiveram no Afeganistão e no Iraque e presenciaram, certamente, momentos únicos, momentos ainda mais dramáticos do que aqueles que nos entram pela casa adentro com os noticiários.
Em “Claxton, 120 dias no Afeganistão” a cara do soldado repousa numa mesa criando uma perfeita linha horizontal. Neste close up a pele é examinada e ampliada até vermos os poros como enormes crateras ou os pelos do rosto a rasgarem a pele para poderem sair. Como se até as coisa mais naturais já abarcassem alguma violência. O fundo é neutro criando assim o foco de atenção no rosto, que por vezes parece um objecto ou uma escultura fotografada com uma luz difusa e delicada. Os olhos evitam a câmara, denunciando um mundo interior de que nada conhecemos mas, onde podemos projectar as manchetes dos últimos anos da presença americana no Afeganistão e a invasão do Iraque. Este rosto inerte numa pose relaxada e imóvel torna-se um símbolo da dor e sofrimento, dos horrores inimagináveis, e da fúria contra uma administração irresponsável e incompetente. A imobilidade do rosto sugere exactamente o oposto, sugere o cansaço que reclama acção.
No caso de alguma vez termos acreditado na existência de armas de destruição em massa ou se alguma vez defendemos a loucura da invasão do Iraque, basta olharmos para os olhos vidrados do soldado Claxton para compreendermos o que 120 dias no Afeganistão podem fazer, no caso de se voltar com vida. Leva-nos a questionarmos a frase, “não podemos ficar (no Iraque) mas não podemos sair” do último grupo de peritos que se pronunciou sobre o assunto.
Susan Opton quiz “olhar a cara de alguém que tinha visto algo de inesquecível” e na sua observação recontextualiza a ideia original da fotografia como “bearer of conscience” (despertadora de consciências?) seguindo o exemplo de Lewis Hine com a série “Child Labor in America” e Eddie Adams com a imagem icónica da Guerra do Vietnam.
As sete imagens de grande formato apresentadas nesta exposição (5 homens e duas mulheres) foram observadas da mesma maneira com as cabeças em repouso em cima duma mesa. Nalgumas imagens as cabeças formam uma linha perfeitamente horizontal e noutras a linha é diagonal. Ocorre-nos que podem estar deitados mas, de olhos abertos por isso podem não estar em repouso. Pelo menos não estão mortos. Estes retratos fazem parte de um projecto em curso e foram feitos, com a autorização do Exército Norte Americano, no Fort Drum a norte de Nova Iorque onde os soldados estavam entre intervalos na Guerra do Iraque e na presença no Afeganistão.
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Rita Barros, Nova Iorque, 7 de Março 2007


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